Lipedema: compreender, diagnosticar e cuidar desta condição crónica
- Mánela Cinco das Três®

- 12 de set.
- 4 min de leitura

O lipedema é uma doença crónica do tecido adiposo que afeta sobretudo mulheres e que, durante décadas, foi pouco reconhecida, tendo sido muitas vezes confundida com excesso de peso, retenção de líquidos ou celulite. Estima-se que possa afetar até 11% da população feminina, embora seja difícil confirmar os números exatos devido à falta de diagnósticos formais e ao desconhecimento generalizado sobre esta condição.
Durante muito tempo, o lipedema foi visto apenas como um problema estético, mas atualmente sabe-se que tem características próprias e um impacto direto no bem-estar físico e emocional, exigindo uma atenção particular e acompanhamento especializado.
Mas, afinal, o que é o lipedema?

Caracteriza-se por uma acumulação anormal e simétrica de gordura nas pernas, desde as ancas até aos tornozelos, e, em alguns casos, também nos braços. O tronco e os pés costumam ser poupados, o que cria uma desproporção visível entre a parte superior e inferior do corpo.
Esta gordura tem características específicas: é resistente a dietas e exercício físico, tem uma maior tendência para a inflamação e provoca sintomas como dor, sensibilidade e inchaço.
Porque aparece?
As causas do lipedema ainda não estão totalmente esclarecidas, mas os estudos apontam para uma combinação de fatores genéticos e hormonais.
Genética: é comum haver antecedentes familiares da condição.
Hormonas: o lipedema tende a surgir ou a agravar-se em períodos de grandes alterações hormonais, como a puberdade, a gravidez ou a menopausa.
Inflamação crónica: algumas investigações sugerem a existência de uma reação inflamatória persistente no tecido adiposo.
É importante salientar que o lipedema não está diretamente relacionado com a obesidade. Mulheres magras também podem apresentar esta alteração, embora o excesso de peso possa agravar os sintomas.
Sintomas e sinais de alerta
Os sinais mais comuns incluem:
Acumulação simétrica de gordura nas pernas e/ou nos braços, poupando geralmente os pés e as mãos;
Dor e aumento da sensibilidade ao toque;
Sensação de peso nas pernas, sobretudo no final do dia;
Tendência para hematomas frequentes;
Inchaço variável, que tende a agravar-se após longos períodos de pé ou sentado;
Dificuldade de mobilidade em estádios mais avançados.

Estes sintomas mostram que o lipedema afeta não só a aparência, mas também o bem-estar e a qualidade de vida.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico do lipedema é clínico, ou seja, baseia-se na avaliação de um médico especialista. Até ao momento, não existem exames laboratoriais específicos para confirmar a condição.
O processo de diagnóstico inclui:
Observação da distribuição da gordura corporal;
Análise do histórico pessoal e familiar;
Exclusão de outras condições semelhantes, como o linfedema ou a insuficiência venosa.
Um diagnóstico precoce é fundamental, pois permite adotar estratégias de tratamento e prevenção mais eficazes.
Abordagens de tratamento e gestão
Embora não exista uma cura definitiva para a linfedema, existem várias medidas que ajudam a controlar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida:
Terapia descongestiva complexa, que inclui drenagem linfática manual, pressoterapia e cuidados específicos da pele;
Uso de meias de compressão médica, que são fundamentais para reduzir o inchaço e aliviar a sensação de peso;
Estilo de vida equilibrado, com uma alimentação anti-inflamatória, com baixo teor de açúcares simples e sal, e prática de atividade física regular (como caminhada, ciclismo ou natação);
Fisioterapia especializada para aliviar os desconfortos e melhorar a mobilidade;
Procedimentos cirúrgicos específicos, como a lipoaspiração adaptada ao lipedema, recomendados apenas em casos selecionados e sob orientação médica especializada.

Além destas medidas gerais, existem dois tratamentos conservadores que ajudam significativamente a controlar os sintomas: a drenagem linfática manual e a pressoterapia.
A drenagem linfática manual consiste numa técnica de massagem suave que estimula o sistema linfático a eliminar os líquidos acumulados. No caso do lipedema, este tratamento ajuda a reduzir a sensação de inchaço e de peso nas pernas, alivia a dor e o desconforto, melhora a mobilidade e contribui para diminuir a tendência para a formação de hematomas.
A pressoterapia utiliza botas pneumáticas que aplicam uma pressão sequencial nas pernas, favorecendo a circulação venosa e linfática. Este tratamento ajuda a aliviar a sensação de pernas cansadas, reduz temporariamente o edema e pode constituir uma alternativa prática ou um complemento à drenagem manual.

É importante salientar que tanto a drenagem linfática como a pressoterapia não eliminam a gordura característica do lipedema, mas ajudam efetivamente a controlar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida. A sua eficácia aumenta quando associadas ao uso diário de compressão médica e a um estilo de vida equilibrado.
Viver com lipedema
O lipedema tem também uma forte dimensão emocional. Muitas mulheres relatam anos de tentativas frustradas de perder peso sem sucesso, carregando consigo uma sensação de culpa ou de incompreensão. É fundamental reconhecer esta condição, dar-lhe visibilidade e falar abertamente sobre ela, a fim de quebrar tabus e reduzir o impacto psicológico associado.
A informação, o acompanhamento médico e o apoio emocional são as ferramentas mais poderosas para lidar com o lipedema.

O lipedema é uma condição crónica real e distinta que merece ser reconhecida. Quanto mais cedo for identificada, maior será a possibilidade de gerir eficazmente os sintomas e evitar complicações futuras.
Ao abordarmos este tema no Diário da Mánela, pretendemos dar visibilidade a uma condição que, embora muitas vezes invisível, afeta milhares de mulheres. A informação é poder e cuidar de si é sempre o primeiro passo para alcançar o equilíbrio entre o corpo e a mente.




